
Resumo
Fazer um teste de paternidade é muito importante. É um exame que por vezes muda vidas. Em alguns casos o impacto é menor, quando já não existe uma relação, nem emocional, nem próxima entre as pessoas envolvidas. Por vezes, o impacto é devastador, não afetando apenas os intervenientes, mas famílias inteiras.
Sabemos que este processo é normalmente um caminho solitário, não é um tema fácil para se discutir, nem com pessoas próximas, nem com pessoas que não se conhece. Muitas vezes os intervenientes não procuram aconselhamento, apenas querem realizar o teste de paternidade o mais rápido possível, para poderem «respirar de alívio».
Contudo, a fiabilidade dos testes de paternidade realizados é muito importante, e devem os requerentes destes serviços saber que um exame com mais marcadores genéticos é melhor.
Quando 16 marcadores genéticos não são suficientes.
Nota: Este relato é verdadeiro, chegou ao sistema jurídico internacional e foi publicado na FSI (Forensic Science Internacional).
Antes de se avançar para o referido caso, iremos explicar rapidamente quais os dados obtidos de um eletroferograma e como são comparados os sistemas nos testes de paternidade, para que o leitor possa acompanhar o resto do artigo.
Entenda que, este artigo foi escrito para si, e não foi escrito por um geneticista, por vezes «recorremos a atalhos» na ciência, simplificamos demasiado, mas tudo com o principal objetivo de o artigo ser o suficiente acessível para qualquer leitor.
Como é óbvio, apesar dos atalhos que tomamos, nunca verá nada errado introduzido de forma intencional no decorrer do artigo.
Como saber se o teste de paternidade é positivo?
Um exame de paternidade, para mostrar uma verdadeira ligação biológica entre duas pessoas deve:
- Não ter mais de 3 sistemas incompatíveis entre os intervenientes em teste;
- Não pode em situação alguma ter menos de 16 marcadores genéticos.
É prática padrão e aceite internacionalmente que, só se excluí a paternidade apenas quando um mínimo de três incompatibilidades forem observadas, o que está de acordo com Di Lonardo et al. [1].
Partindo dos pressupostos acima referidos, analisaremos os dados obtidos. Os dados que iremos analisar são obtidos a partir dos gráficos de amplificação de zonas especificas do ADN por PCR.
A título de exemplo e para que o leitor entenda de onde surgem os perfis de ADN, – números presentes nos relatórios dos testes de paternidade, abaixo encontra os gráficos obtidos após a amplificação de uma amostra de ADN.

Como se observa na imagem acima, foi realizado um perfil genético com 16 sistemas, cada sistema com dois alelos (dois números). Cada participante no exame de ADN terá uma imagem igual à de cima, uma para o alegado pai outra para o filho(a).
Após ter os dois perfis de ADN extraídos será possível no relatório ver algo parecido com o seguinte exemplo abaixo.

Observando a tabela, verifica-se que para cada sistema, o pai tem pelo menos um número igual ao filho(a). Logo, em todos os sistemas existiu uma herança biológica «correspondência». Como deve o leitor compreender, não é possível tirar uma conclusão quanto à paternidade neste caso, pois 4 sistemas não têm o poder de confirmação da paternidade.
Por exemplo o relatório do teste de paternidade da Código ADN, tem no mínimo 24 sistemas. Veja abaixo um exemplo de um relatório completo.

Consulte o nosso artigo de como ler os resultados da tabela do teste de paternidade, se tem curiosidade como ler o teste de paternidade e interpretar os perfis de ADN.
Resultados de um teste de paternidade que passou de 16 para 87 marcadores genéticos
Os testes de paternidade e parentesco (relações familiares complexas) atualmente são realizados rotineiramente usando um painel de 15 STRs, para obter uma exclusão ou a confirmação da paternidade.
No entanto, numa pequena proporção dos casos, este número pode ser insuficiente para solucionar o caso.
Estes eventos geralmente ocorrem quando a mãe não participa no exame de paternidade, ou, quando o pai biológico é um parente próximo do suposto pai, como por exemplo o irmão.
Nestes casos, o teste pode tornar-se muito confuso.
Uma grande proporção de resultados ambíguos surge quando se testam duas pessoas, sem se saber se um parente de primeiro grau do alegado pai em teste, também poderá ser o pai biológico.
Com menos frequência, podem ocorrer resultados ambíguos a partir da observação de exclusões, que podem ter origem em mutações.
O principal recurso para os laboratórios encontrarem tais resultados é a adição de sistemas extras para aumentar a probabilidade de paternidade ou, alternativamente, para obter uma exclusão inequívoca.
Apresentamos aqui o caso de uma mulher (AD) que afirmou ser filha natural de um homem (AF). A análise de 16 sistemas mostrou duas inconsistências nos sistemas vWA e D2S1338.
As incompatibilidades foram reproduzidas e confirmadas usando kits alternativos, uma tecnologia diferente.
Dois filhos do suposto pai (S1 e S2) mostraram compatibilidade total nos sistemas vWA e D2S1338, confirmando o genótipo do pai.
A fim de esclarecer o pedigree, também se solicitou a participação da mãe AD (M) e ampliou-se o painel de marcadores com a maioria dos kits comerciais disponíveis, para um total de 87 marcadores de ADN.
Primeiro teste de paternidade executado, apenas com 15 sistemas.

Como é possível verificar acima, o primeiro relatório executado não cai na premissa de incompatibilidade de três ou mais sistemas não coincidentes, logo, não pode o laboratório, excluir o pai como pai biológico.
Contudo, também não o deve incluir, pois 2 de 15 sistemas falham a sua herança biológica.
Deste exame executado acima apenas se pode tirar duas conclusões:
- Existiram duas mutações genéticas e o pai em teste é o pai biológico (um evento extremamente raro); ou,
- Um familiar direto do alegado pai é o pai biológico da filha em teste. (por ex: um irmão, ou o seu próprio pai)
Com estes dois cenários, só existia uma solução, o exame foi novamente realizado, mas teria que suportar um estudo muito mais aprofundado do que o que foi realizado, quando entregaram o relatório, para uma segunda opinião.
Sem dúvida que os perfis de ADN precisavam de muito mais robustez. Extraíram-se 87 sistemas.
Veja abaixo os perfis genéticos obtidos pelo laboratório que fez a segunda contra-prova a este caso, com 87 sistemas.

Dos dois cenários acima descritos, foi dito ao laboratório que, era altamente improvável que um familiar direto do alegado pai fosse o pai biológico da filha;
Dada à observância dos dados acima, existiu um maior foco na segunda opção, eventos mutacionais, em dois alelos no mesmo perfil de ADN.
A hipótese de que as incompatibilidades eram mutações verdadeiras foi levada em consideração: as mutações são caracterizadas por uma ou duas adições ou diminuições repetidas, criando uma incompatibilidade. Neste caso, as duas inconsistências são caracterizadas apenas por uma adição (19 a 20 em D2S1338) e uma diminuição (20 a 19 em vWA) de um alelo.
Caso contrário, o envolvimento de um parente próximo do sexo masculino não podia ser excluído. O suposto pai tinha um irmão, que se recusou a fornecer a sua própria amostra de ADN, relata o artigo; A análise do cromossoma X entre a filha e o suposto pai foi coincidente nos 8 STRs testados, indicando que provavelmente partilham a mesma linha materna.
Assim, incorporando as taxas de mutação vWA e D2S1338, o cálculo do índice de paternidade deu um valor de 1,45 × 10^13, com probabilidade de paternidade W = 0,99999999999993. Por razões conservadoras, este valor foi calculado incluindo todos, exceto X-STRs e mapeamento de dinucleotídeos nos cromossomos 15 e 16.
Probabilidade de paternidade PP = 0,99999999999993 x 100% = 99, 999999999993%
A probabilidade final de que o pai verdadeiro fosse o tio que se recusou a dar a sua amostra de ADN é de 1: 192.
Ou seja, lido de outra forma, o alegado pai em teste tem 192 vezes mais probabilidade de ser o pai biológico da filha, do que o seu irmão.
Confirma o artigo que, o Exmo. Sr. Dr. Juiz decidiu pela paternidade do individuo em teste.
Ainda tem dúvidas sobre o teste de paternidade?
Consulte a base de conhecimento e veja as perguntas mais frequentes sobre o teste de paternidade informativo.
Fonte: https://www.fsigeneticssup.com/article/S1875-1768(11)00275-7/fulltext
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